biografia
Maria Helena Pabst de Sá Earp (1919-2014), Professora Emérita de Dança da UFRJ, artisticamente conhecida como Helenita Sá Earp, foi uma pesquisadora do movimento, intérprete, coreógrafa e introdutora da dança no ensino das universidades brasileiras.
Nasceu na cidade de São Paulo, onde residiam seus pais, Oswaldo Leite Pabst e Jenny de Camargo Pabst. Sua mãe sempre estimulou o contato da filha com a música e a pintura desde a primeira infância. Em meados dos anos 1920, quando os Pabst se mudaram para o Rio de Janeiro, a pequena Helenita passou a frequentar aulas de piano e pintura.
Helenita estudou no Colégio Bennett de 1934 a 1937, onde teve seu primeiro contato com a dança nas aulas de ginástica rítmica lecionadas pela Prof.ª Pollywethel. Foi a partir de sua influência que Helenita teve os primeiros vislumbres de seu caminho.
Em 1938 fez o Curso Superior de Educação Física na Escola Nacional de Educação Física, da Universidade do Brasil (UB 1920-1965), atual Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A finalidade deste curso foi a formação de professores de Educação Física. Em virtude do seu desempenho nas aulas de Ginástica Rítmica, enquanto aluna da professora Margarida Freyer, foi convidada pelo Major Inácio de Freitas Rolim, na época diretor da escola, para assumir a direção das atividades desta cadeira em 1939.
Ao assumir a posição, com 20 anos, imprimiu-lhe de imediato características de dança, sendo constantemente convidada para participar em eventos e solenidades na universidade e em outras instituições, através da apresentação de coreografias. Ainda no início de sua carreira, estudou música sob a orientação de Villa Lobos.
Após tornar-se docente da ENEFD, recebeu uma bolsa de estudos para realizar seu mestrado na Dance Education School da Universidade de Nova Iorque. Mas ela optou em permanecer no Brasil. Helenita sentia um impulso muito forte de que era capaz de estruturar e organizar pesquisas sobre fundamentos da dança no seu país, sem a necessidade de fazer uma pós-graduação no exterior. Desde então, submeteu-se, então, a uma rigorosa disciplina de estudos diários, tendo a Professora Glória Futuro Marcos Dias como sua colaboradora durante mais de 40 anos. Logo reconheceu que seu papel e missão na universidade era estruturar e organizar uma teoria de dança, até então, não existente no país.
No início da década de 40, o tempo destinado à dança no currículo do curso de Licenciatura em Educação Física era pequeno e insuficiente para o pleno desenvolvimento do profissional de dança. Desta forma, pela necessidade de aprofundar a qualificação de professores e coreógrafos, Helenita, a partir de um intenso trabalho de investigação do movimento e de processos de ensino e criação na dança, iniciou uma pesquisa visando desenvolver uma teoria de princípios e conexões abertas em dança, onde as práticas corporais pudessem sempre se renovar.
Entre 1941 e 1980, ministrou cursos de pós-graduação lato sensu na área da dança e coreografia. Estes cursos tinham duração de três anos, em tempo integral. Ao longo de várias décadas, estes cursos recebiam estudantes de vários estados do país, muitos deles já professores que lecionavam em universidades, academias de dança e em outras instituições. Este fato contribui para que seus cursos de especialização assumissem posições de liderança na formação de professores, pesquisadores e artistas da dança em nosso país.
Em 1943, criou o Grupo Dança, que funcionava como um laboratório de possibilidades corporais – criação, concepção, investigação, experimentação e sedimentação das pesquisas e produções didáticas, científicas e artísticas na área – caracterizando-o como um núcleo de excelência e de interseção entre o ensino de graduação e pós-graduação, num processo dialógico com a sociedade, através das apresentações dos espetáculos e palestras coreografadas.
Em sua trajetória e vida profissional, Helenita realizou mais de setecentas apresentações em eventos nacionais e internacionais, com diversas premiações em festivais no Brasil e no exterior. Desde então, o Grupo Dança, hoje denominado Companhia de Dança Contemporânea UFRJ, vem se apresentando nos espaços onde a dança brasileira é lugar de destaque.
Helenita defendeu sua Tese de Livre Docência da Cadeira de Ginástica Rítmica da ENEFD da Universidade do Brasil, em 1949 – o que equivalia na época ao título de doutorado.
Em 1951, foi convidada pela Dra. Dorothy Ainsworth, diretora da American Association for Health, Physical Education and Recreation para realizar uma série de apresentações e Master Classes de dança moderna nos Estados Unidos. Foram ao todo vinte oito apresentações em vinte e seis universidades e duas na sede da Organização dos Estados Americanos, em Washington.
Em 1956 foi indicada para participar do I Curso Internacional de Dança em Zurich na Suíça, onde participou de residências artísticas com Mary Wigman, Sigurd Lieder e Harald Kreutzberg, todos discípulos de Rudolf Laban, bem como participou de oficinas com as coreógrafas Ana Sokolov e Rosalia Cladek.
Em 1961, a convite de Madeleine Rosay, então diretora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, Helenita assumiu a cadeira de Dança Moderna, permanecendo nesta instituição por dois anos. Em 1963, passou a residir na cidade de Salvador e indicou como sua sucessora nesta escola, sua discípula Lourdes Bastos.
Entre 1963 a 1965, Helenita lecionou no Curso de Dança da Universidade Federal da Bahia. Este período foi de extrema importância para o desenvolvimento de suas pesquisas em dança. Ela passou a estudar anatomia com o professor Dr. Aldemiro José Brochado nesta universidade. Helenita aprendeu muito com ele sobre as diferenças dos corpos. A partir daí se lançou no desafio de conceber diversos tipos e estruturas de aulas de dança numa vasta rede de processos corporais plurais e abertos voltados ao eclodir das singularidades de cada pessoa. Neste período em que lecionou na UFBA, conviveu com Rolf Gelewski, tornando-se amiga de Klauss e Angel Vianna.
Em 1966 realiza uma turnê pela Europa com apresentações em Madrid, Lisboa, Amsterdam e Haia sob o patrocínio da UNESCO.
Helenita Sá Earp dedicou sua vida profissional ao ensino e à pesquisa de dança na Universidade Brasileira, onde desenvolveu uma teoria de princípios e conexões abertas em dança.
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Frases de Helenita
“Dança é a capacidade de transformar qualquer movimento do corpo em arte.”
"A Dança é una na sua essência e diversa nas suas emanências."
"Dança é harmonia universal em movimento."
O que se falou de helenita
"Dentro do rigor da sala de aula, sem luzes, em malhas pretas, sem ‘maquiagem’, com um piano e um tambor, um mundo de beleza de movimentos e ritmos puros é criado por seis jovens de impressionante seriedade, introspectivas e discretas, exteriorizando-se apenas nas máscaras, gestos, movimentos e ritmos. Um clima de pesquisa, laboratório, quase liturgia. Também uma poesia grave e profunda que a todos toca."
Correio da Manhã, 04 de Julho de 1958.
"Helenita Sá Earp está de parabéns: seu grupo, no primeiro encontro de Escolas de dança em Curitiba, alcançou um grande êxito, despertando um grande entusiasmo em todos os que aplaudiram 'Ritmo Forma e Côr', roteiro da aula, inteiramente descrita por ela. O nível técnico e artístico desta aula atingiu um grau tão elevado que sua apresentação foi repetida, a pedido dos patrocinadores do Conselho Nacional de Cultura, encabeçado por Paschoal Carlos Magno. Chegou até a emocionar suas colegas de profissão, que com lágrimas nos olhos, foram abraçá-la. O grupo de vanguarda de Helenita, do qual faz parte, entre outras, a bailarina Lourdes Bastos, abre caminho para essa arte. Sua técnica se concentra no estudo do movimento dando-lhe lógica e fantasia. Praticamente autodidata, Helenita formou um grupo de jovens de talento a procura da liberdade dos movimentos dentro de uma alta técnica de formas e afirmativas, buscando o máximo de expressão na simplicidade dos gestos."
Correio da Manhã, 16 de setembro de 1962.
“Foi um espetáculo maravilhosamente bem entrosado, em que, ao lado da beleza de expressão, estava a precisão da execução, límpida, espirituosa, inteligente. O espetáculo do Grupo de Vanguarda teve vibração e encanto como nenhum outro, servido pelo trabalho e a inteligência de seus componentes.”
Diário do Paraná, 09 de agosto de 1962.
“Reconhecimento da singularidade e da relevância de sua obra pode ser encontrado nos quase 30 convites para apresentações, conferências e seminários nos Estados Unidos, além de muitos outros nos mais diferentes países. As suas ‘tournées’ americanas foram sem dúvida momentos de glória para nossa Universidade. Encantando, por exemplo, as plateias e a crítica da ascética e fria Nova Inglaterra com suas ‘master classes’ e com apresentações primorosas de suas obras. Com o melodioso e elegíaco lirismo do “Amanhecer de Grieg”, meridiano musical a ligar os fiordes e os bosques da Noruega com nossos rios e florestas. Com primorosas jóias baseadas em nossa tradição e em nossas lendas como o “Saci-Pererê” e o “Batuque” (de Frutuoso Viana), levantando as plateias para a alegria e o aplauso."
Adalberto Vieyra.